Kate Moss na Vogue Brasil

Zilá Soares A arte é a paixão que me induz ao desafio de ser uma artista plástica contemporânea e compreender, a partir desse ponto de vista, a história do homem, seu percurso e evolução, enquanto investigo o meu próprio íntimo. O primeiro contato com a arte foi através de aulas que frequentei de pintura em porcelana no correr da minha fase de pré-adolescência. Não tardou muito para eu definir que minha graduação seria nessa área e, assim, fui estudar Belas Artes na UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – durante três anos e meio dos cinco anos que é a duração de curso. Concluí meus estudos na UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – como Bacharel em Artes Visuais. Na sequência, fiz uma Especialização em Arte na Educação Escolar, o que me habilitou a ministrar aulas nas áreas de Arte e Moda. O universo da moda é um segmento que sempre esteve presente em minha vida; trabalhei durante 14 anos na loja Zélia Calçados com a minha mãe, a primeira empresária registrada do ramo de calçados femininos de Campo Grande – MS. Esta ligação forte com a moda se reflete na minha arte e em minha experiência profissional. Atualmente desenvolvo uma collab com minha filha estilista Claudia Ferraz, estampando em seda meus desenhos para suas coleções de lenços e roupas. As viagens à Paris enriqueceram minhas experiências com a arte e minhas técnicas em pintura, aprimorando o repertório e a atmosfera das obras que passaram a refletir sobre os comportamentos e atitudes de exageros e antagonismos, assim como a urgente preocupação com o meio ambiente, o lixo e as questões locais de conflitos e contrastes sociais e ambientais. Séries Saphadinhas Minha produção artística acontece em fases e a figura feminina sempre é inspiração e está presente nas minhas pinturas e desenhos como as da série Saphadinhas. Mulheres provocantes inventadas ou releitura de figuras femininas de obras famosas como a Monalisa de Leonardo da Vinci, As Banhistas de Renoir (detalhe), a Olímpia de Manet, entre outras, nas técnicas de bastão oleoso e pastel seco sobre papel. O momento da política nacional flagrava os políticos mais safados o que inspirou a expressão de malícia característica delas e o título da série. O desafio foi estruturar os corpos femininos no espaço branco do papel A4 sem perder as expressões divertidas de cada uma delas. Foi divertido também para mim todo este processo criativo. Coisa das Coisas Esta série de desenhos “Coisa das Coisas” irrompeu no ato espontâneo de traçar linhas e ocupar o espaço em branco do papel com formas desprovidas de realidade ou figuração, mas que estão matizadas nas minhas referências de espaço e tempo enquanto experiências visuais. Nasci numa região de riqueza e fartura em termos de natureza exuberante e abundância de recursos naturais, onde o céu multicolorido se estampa nas águas dos rios e nos alagados do Pantanal e os animais, antes selvagens, pouco a pouco convivem em harmonia com as pessoas em parques da cidade. Situações que no desenvolver dos desenhos se estabelecem de maneira subjetiva. Dos traços em grafite sobre papel surgem as dimensões e planos que alternam a espacialidade entre o que parece ser uma coisa e outra coisa e que não é coisa nenhuma. Como a estrutura do DNA humano o desenho conduz o fluxo do olhar de baixo para cima e vice-versa, acompanhando a energia em movimento da composição. “Da abstração extrai-se peixes, araras, caracóis, orquídeas... sei que tem mais” comentou o amigo fotógrafo, Marcelo Oliveira. As linhas transfiguram- se em cores monocromáticas e o reflexo do que se espelha através de mim converte-se em configurações de coisa das coisas que é a arte que me expressa. O grafite e o bastão oleoso preenchem as formas deixando o branco de o papel respirar. Meu desafio ao desenvolver os desenhos é desfigurar o figurativo que teima em acontecer na minha mente e ainda assim encontrar na abstração aleatória a ligação entre as linhas contínuas e as formas que elas propõem sem perder o fluxo de equilíbrio da composição mesmo diante do caos aparente, o que é próprio da natureza. Vivemos no caos da pandemia do COVID 19 há mais de um ano e na busca da salvação para o planeta, a cura das coisas.