Expressões:
Esses são primeiros quadros, as primeiras ideias executadas ao vivo na noite, lá em 2010. Mas na verdade acabei pintando essa temática durante toda a década, até a chegada da pandemia em 2020. Lembro que eu precisava ter ideias todas as noites, varias vezes por semana, e a primeira coisa que me occoria eram os rostos dos quadros do Pablo Picasso, as expressões dramáticas de “Guernica” por exemplo. Personagens com a boca aberta e aqueles rostos deformados… Depois de passar a infância e adolescência tentando retratar o mundo de forma realista, a partir dos anos 2000 comecei a char mais interessante essa coisa de não ter compromisso com a representação fiel da imagem, com o realismo. Já havia feito muitos esboços e estudos a lápis entre 2005 e 2010… Muitos personagens deformados… E percebi que isso era uma coisa que me dava mais prazer do que ficar tentando atingir a perfeição realista. Comecei a perceber que tentar ser realista, pelo menos pra mim, era algo que fazia ser preso, parecia uma “obrigação” de ter que ser fiel a realidade. Então, comecei realmente a gostar dessa onda do “Cubismo Sintético” de você deixar a obra surgir quase que por acaso: Se a sua mão quiser mudar o trajeto de um traço… Deixe ela ir… Deixe o traço livre para ir aonde ele quiser e uma vez que os traços se impuseram na tela você elabora a pintura a partir disso, partir desse traçado “natural” e não “forçado”.
Mas eu lembro também que pintar rostos era uma forma de fazer as pessoas enxergarem os quadros a distância (os quadros não podiam ser muito grandes prá caberem nos palcos). Então pra compensar essa limitação do tamanho era preciso pintar algo que as pessoas enxergassem de longe, 10, 15 metros de distância… Imagens de 1 metro ficavam parecendo uma foto 3×4, mas ficavam compreensíveis. Outros temas nessa distância já se tornavam mais difíceis de entender e nesses primeiros anos eu precisava, ou pelo menos eu achava que precisava, ter uma conexão maior com público, precisava ser aceito. Fiz vários quadros nessa pegada, nessa onda do Picasso, que não chegavam a ser cópias mas traziam propositalmente aquela marca registrada dos olhos desalinhados… Meio que um “Cubismo clichê” e fiz outras experimentações também.
Muitas vezes pintei personagens com a boca aberta e mostrando a língua… Línguas de cinco pontas, como se estivessem explodindo… Essa série foi feita em sua maioria quando eu estava dividindo o palco não com DJs mas com bandas de Rock. E nos shows de Rock você tem aquela coisa do vocalista estar sempre se “esguelando”: Steven Tyler da banda Aerosmith e Mick Jagger são exemplos disso. A própria logomarca dos Rolling Stones representa isso, uma boca com a língua pra fora. É muito simbólico do Rock’ Roll, daquela emoção de cantar de forma exagerada, quase desesperada, uma necessidade de gritar… Como se o roqueiro quisesse ofender o público. O Rock tem isso, uma expressão de agressão, cantar agredindo o público… E esse espírito acabava se refletindo nos quadros, uma forma de estar em sintonia com a banda. Mas haviam outras expressões também, alguns quadros que chamava de “experiência espiritual” que fazem parte de um momento em que eu comecei a tentar identificar qual era o “Espírito de cada noite”, por que tem isso, cada noite que você está lá no palco, seja com uma banda ou DJ, cada noite tem um espírito próprio, tem uma vibe… As vezes mais feliz, as vezes mais triste… Mais acelerada ou devagar… Então eu tentava colocar nas expressões o espírito daquela noite. Se as pessoas estavam mais sérias ou se estavam mais descontraídas isso iria se refletir na obra. Eu sempre pensava assim: O espírito da noite é o resultado da soma dos espíritos das pessoas que estavam ali… A soma ou a subtração, enfim, a combinação daqueles espíritos. Dezenas, centenas de pessoas acabavam por criar uma só alma. Era isso que eu tentava colocar nessas expressões. E muitas vezes poderia ser o meu estado de espírito refletido ali, mais empolgado, mais triste, dependendo do dia. Mas a maioria das noites eram muito divertidas, a praia, a música, a bebida te levam a uma inevitável felicidade.
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